Assimetria ultra charmosa
Poltrona “Temes” da Lattoog: antropofagia cultural de Tenreiro para Eames.
E pensando na Semana do Móvel de Milão – que aconteceu de 4 a 9 de abril deste ano – elaboramos um pequeno rol de peças de design nacional que chamam bastante atenção. A primeira delas, a poltrona “Temes“, design de 2009, de Leonardo Lattavo e Pedro Moog, que formam a Lattoog Design. Parte da série Viralata© – que reúne ícones do design nacional e internacional em uma mesma e inovadora peça – “Temes” nasce da fusão de uma cadeira de Joaquim Tenreiro projetada nos anos 40-50 e a ´La Chaise´ de Charles and Ray Eames, concebida em 1948. O próprio nome da poltrona também brinca com o conceito de fusão: Tenreiro + Eames = Temes. Segundo release que recebemos “Em sintonia com o conceito de ‘antropofagia cultural’, lançado por Oswald de Andrade em 1928 – a ideia de devorar a cultura colonizadora e transformá-la em cultura brasileira e revolucionária, a poltrona Temes, apresenta referências fortes às raízes e cultura brasileira: miscigenação, sincretismo e ‘viralatismo’. Um trabalho que foi definido recentemente pela jornalista Suzete Aché como ‘Antropofagia Carioca.”
Gêmeas siamesas: duas poltronas ‘Temes’ da Lattoog lado esquerdo e lado direito.
Ao admiramos suas formas e proposta – irreverência, casualidade, ludicidade – nos perguntamos se ela não poderia ter saído de um conto de… Hans Christian Andersen! Ou, quem sabe, ser um bom complemento à arquitetura exótica de um dos prédios de Gaudí… Nossa imaginação também foi até o fato de que a poltrona “Temes” é produzida com lado esquerdo e direito – veja foto acima – ou seja: pode ser utilizada individualmente sem problemas, mas também pode ser encarada com uma dupla: um espelho uma da outra, o que remete ao pensamento de gêmeos idênticos e simétricos. Nossa, que loucura, não?
A verdade é que a sensação de espelhamento é verdadeira, e poderia ter sido uma ideia da dupla de designers. Mas a criatividade de Pedro e Leonardo já foi das melhores ao pensar na antropofagia cultural. Em todo caso, a fartura de interpretações que o design da peça proporciona é interessante e divertida, e vale o exercício de imaginação de possibilidades.